Torne-se Quem Você Nasceu Pra Ser
A maior parte das pessoas vive anestesiada. E o pior é que nem percebem. Estão presas em rotinas que não escolheram, em papéis que herdaram, em expectativas que nem sequer questionaram. Vivem como se fosse normal se arrastar da segunda à sexta, suportar um casamento morno, afundar em distrações baratas e chamar isso de vida.
Você já parou pra pensar o quanto disso é seu? O quanto da sua rotina, das suas decisões, dos seus desejos, veio de dentro — e não foi apenas copiado, absorvido, empurrado goela abaixo?
Desde cedo, ensinaram você a funcionar. Ser pontual. Ser educado. Ser "boa pessoa". Ser útil. Ser previsível. Mas ninguém te ensinou a ser você. Pelo contrário. Te disseram, com palavras ou com olhares, que ser você era demais. Que era perigoso, exagerado, difícil de lidar. Então você se encolheu. Você se adaptou. E perdeu algo precioso no processo.
Mas esse algo ainda está aí. Quieto, mas pulsando. Às vezes se manifesta num incômodo sem nome. Noutras, numa raiva que parece desproporcional. Em outras, numa tristeza que chega do nada. São os sinais de que você está vivendo longe de si.
Talvez você sinta isso ao sair de casa e entrar num ônibus lotado, com fones no ouvido e olhos cansados, como se estivesse apenas cumprindo um turno de existência. Talvez no domingo à noite, com aquela angústia que ninguém nomeia, mas todo mundo sente. Talvez seja na cama, ao lado de alguém que você já não ama mais — ou nunca amou. Talvez seja ao abrir o Instagram e sentir que sua vida, em comparação com as vitrines alheias, parece sem brilho, sem fogo, sem verdade.
O mundo ao seu redor adora isso. Porque gente adormecida consome mais, reclama menos e repete com facilidade as fórmulas prontas. Gente acordada incomoda. Gente viva demais desestabiliza. Gente que pensa por si ameaça as estruturas que vivem da repetição.
Tem um trecho do Pinóquio que sempre volta pra mim quando penso nisso. Ele queria ser um menino de verdade. Mas no caminho, se perdeu no parque de diversões — um lugar cheio de brilho, promessas de liberdade e diversão. E ali, aos poucos, foi se transformando em um burro. Literalmente. O lugar que parecia liberdade era, na verdade, uma prisão dourada. Um zoológico pra quem acreditava que estava escolhendo.
Quantas vezes você aceitou convites parecidos? Quantas vezes trocou sua força por aprovação? Quantas vezes silenciou sua verdade pra manter uma paz que nunca foi real? Quantas vezes riu quando queria gritar? Quantas vezes disse “tá tudo bem” quando, por dentro, algo estava apodrecendo?
Quantas vezes você passou dias inteiros se ocupando com problemas que não importam? Resolvendo demandas que vêm de fora, mas que nunca nutriram o que você tem dentro? Quantas vezes engoliu a própria voz por medo de parecer radical? Quantas vezes deixou de tentar algo novo porque te ensinaram que você precisava de segurança antes de tudo?
Você não está doente. Está entorpecido. Não precisa de um diagnóstico. Precisa de um chamado. Precisa de alguém que olhe no seu olho e diga: “Eu vejo que você está se perdendo. E você não precisa mais continuar assim.”
Mas ninguém vai te resgatar. Essa parte é sua. E só sua.
Tornar-se quem você nasceu pra ser não é fácil. Vai doer. Vai te afastar de algumas pessoas. Vai fazer com que você enfrente partes de si que preferia ignorar. Mas também vai te devolver a vida. A presença. A dignidade. Vai te devolver o gosto de acordar, de olhar no espelho, de respirar fundo e saber que, mesmo com medo, você está onde tem que estar.
É por isso que eu não ofereço conforto. Nem respostas fáceis. O que eu ofereço é presença real. Um espelho firme. Um espaço onde a sua força vai ser chamada — não anestesiada. Um espaço onde sua dor é bem-vinda, não como um sintoma a ser apagado, mas como uma bússola que aponta o que precisa ser transformado.
É um caminho onde a verdade dói, mas liberta. Onde você perde ilusões, mas encontra sua espinha. Onde você para de se esconder de si mesmo. Onde você volta a se olhar com respeito — e com fogo nos olhos.
Se você sente que tem vivido no modo automático… Se você sente que tem potencial desperdiçado… Se você sente que há mais em você do que o mundo reconhece…
Então talvez esse seja o momento.
Não espere estar pronto. Ninguém está. Mas esteja disposto.
Você não precisa se encaixar. Precisa se levantar.
Não precisa agradar. Precisa se honrar.
Não precisa de aprovação. Precisa de clareza. E de coragem.
É disso que é feito o caminho de quem acordou. E se você leu até aqui, talvez algo em você já esteja acordando também.
E se estiver…
Proteja isso. Alimente isso. Porque o mundo vai tentar apagar. Vai tentar te convencer a voltar pro antigo. Vai usar vozes próximas. Amigas. Familiares. Suaves. Cheias de bom senso.
Mas você já sabe. Já viu demais. Já sentiu demais. Já sangrou demais pra voltar pro sono.
Agora é com você.
Bem-vindo ao início. O resto… você constrói em pé.